De acordo com uma coluna recente escrita por Robert Lawrence no Blog do Professor Dani Rodrik da John F. Kennedy School of Government (Harvard - HKS)[i]. Desde a década de 1960 as três grandes empresas automobilísticas dos Estados Unidos têm se especializado em carros de grande porte (isto é vans e mini-caminhões de luxo) devido a um aumento de tarifas que tornou seus concorrentes (estrangeiros) pouco competitivos[ii]. No ensaio, o autor associa a origem da trajetória desenvolvida pelas três maiores montadoras de Detroit em construir mini-vans e carros de grande potencia com as brigas originadas durante as disputas tarifárias entre a industria automobilística dos Estados Unidos e a industria dos países Europeus nos anos 60.

 

De acordo com Robert Lawrence em 1962 devido a uma disputa tarifaria o recém implementado Mercado Comum Europeu negou a entrada dos frangos produzidos nos Estados Unidos. “Depois de ter sido incapaz de resolver a questão diplomaticamente, os Estados Unidos respondeu a disputa com retaliação, que incluiu uma tarifa de vinte cinco por cento sobre os ‘mini-caminhões (atuais vans e SUV’s)’. A tarifa visavam reduzir as margens de venda do modelo Kombi produzido pela alemã Volkswagen, popular no mercado americano”[iii].

 

Um outro motivo relacionado as altas margens de lucro que os veículos desta classe detinham é que, os EUA impõem uma tarifa de vinte e cinco por cento para automóveis na categoria de largo porte que servia para proteger o mercado interno. Enquanto nos EUA a tarifa de importação de automóveis regulares é 2,5 por cento e as tarifas sobre os bens importados para a maioria dos veículos são apenas um por cento do valor global das importações de mercadorias. A tarifa final dos EUA é equivalente a uma proteção efetiva que esta política de subvenção criou, porque muitos destes insumos utilizados para montar os caminhões não estão sujeitos a tarifas de 25 por cento em qualquer lugar do mundo[iv]. O principal resultado deste tipo de tarifarão cuja procedência foi um acidente da história das relações internacionais é que guerras tarifárias danificam as bases do comércio exterior. Só com o passar do tempo é que o governo aprendeu a duras penas como um falência quase simultânea das três grandes montadoras acabaria tendo um custo superior ao dos lucros de curto prazo obtidos através do protecionismo[1].

 

Uma vez concedida a retaliação fica muito mais difícil para o governo Norte Americano reduzir os favores existentes junto a indústria, mesmo com ausência de uma justificação política ou lógica econômica de médio e longo prazos. Não é de admirar que os veículos de médio e pequeno porte Japoneses obtiveram uma incursão de sucesso nos EUA o que implicou na criação de fábricas para montagem destes. A escolha de inserir apenas três portas em suas SUVs, para que pudessem qualificar-se como vans , tendo em vista que os fabricantes de Detroit eram e continuam sendo contra o Acordo de Livre Comércio com a Coréia o que acabaria permitindo a invasão destes veículos construídos no mercado dos EUA Duty-Free[v].


[1] De acordo com a opinião do autor, se o Congresso quer uma explicação sobre o porque as três grandes montadoras de Detroit não são competitivas, o primeiro passo seria investigar a generosidade disfarçada em formas de tarifas durante os últimos 47 anos.


[i] Robert Lawrence complete list of publications http://www.hks.harvard.edu/fs/rlawrence/publications.html

[iv] Maynard, Micheline. The End of Detroit: How the Big Three Lost Their Grip on the American Car Market (2003).

[v] Maxton, Graeme P. and John Wormald, Time for a Model Change: Re-engineering the Global Automotive Industry (2004)