Alguns fatos se tornaram marcantes e lendários na história da aplicação do hidrogênio e mostram como foi crescendo o interesse por ele. Em Paris, no dia 27 de agosto de 1783, Jacques Charles realizou uma façanha espantosa. Ele pairou a 915 metros de altura num balão de sacos de seda revestidos de borracha, cheios de hidrogênio gasoso, menos denso que o ar. Camponeses apavorados destruíram o balão tão logo ele retornou ao solo, mas Charles deu início a uma busca que continua até hoje: utilizar, no transporte, o elemento mais leve do Universo que é o hidrogênio. 

No início do século XX, o hidrogênio, já produzido em escala industrial, promoveu um grande avanço do transporte aéreo nos dirigíveis como os Zeppelins. Quando usados como gás de sustentação, estes dirigíveis desbravaram as primeiras rotas de grandes distâncias intercontinentais, inclusive a primeira volta ao mundo. Para tal evolução ocorrer, foi preciso que também houvesse uma evolução nos materiais, na navegabilidade e nas estruturas aeroportuárias para o embarque e desembarque dos passageiros, abrindo assim o espaço que viria a ser ocupado mais tarde pelos aviões.

Com o fim da era dos dirigíveis, a aplicação do hidrogênio ficou restrita ao uso industrial, cuja demanda para a fabricação de produtos químicos e o uso em refinarias, entre outras finalidades, cresceu no século XX, nos anos 1950. Nesse mesmo século, surgiu a bomba de hidrogênio que se tornou o maior artefato explosivo que o homem já produziu, sendo que a maior delas chegou a ter uma capacidade destrutiva 2.500 vezes maior do que a bomba atômica de Hiroxima, como veremos no subcapítulo 4.5, ao descrevermos as experiências dos cientistas de Los Alamos. Essa reação provinha do produto da reação da fusão do hidrogênio (H) transformado em Hélio (He), a exemplo das reações que ocorrem no Sol, como foi mencionado no início deste capítulo.

Desde os anos 1970 e 1980, um esforço monumental tem sido feito na área da pesquisa e do desenvolvimento (P&D) para obtenção e geração de energias não poluidoras. Como foi mencionado no capítulo 2.2, tal esforço foi iniciado devido aos choques econômicos provindos dos embargos no fornecimento de petróleo ao mundo e à eventual tomada de consciência da preservação do meio ambiente, impulsionada pelos tratados oriundos das conferências de Estocolmo, em 1972,  do Rio de Janeiro, em 1992, e do Protocolo de Quioto, que foi assinado em 1997, no Japão, e ratificado em 2004 com a participação da Rússia[1], observando-se os seguintes valores da matriz energética mundial.
 
4.4. A)  Matriz Energética Mundial


Fonte: Ministério das Minas e Energia, relatório de 2009.


 
 4.4. B)  Matriz Energética Brasileira 
 


Fonte: Ministério das Minas e Energia, relatório de 2009.

 
[1] FUJIHARA, Marco Antonio; BATISTA, Eliezer; CAVALCANTI, Roberto B. Caminhos da Sustentabilidade no Brasil. Terra das Artes Editions, c2005. ISBN 8587168053.