Um fator que levamos em consideração nesta analise é a disponibilidade de reservas de recursos finitos como os de origem fóssil. Neste campo existem duas vertentes de opinião diferentes quanto a disponibilidade do petróleo, de um lado o time do CERA[1] liderado pelo cientista político Daniel Yergin (autor do bestseller “The Prize”, e Ph.D. em Relações Internacionais) e do outro lado existe a teoria de ‘Peak Oil’ que se refere ao ponto de equilíbrio entre demanda para a oferta do petróleo[2]. Isto é, à taxa máxima na qual podemos extrair petróleo – sem comprometer a taxa com a qual encontramos novas reservas de petróleo.

 

Dr. Marion King Hubbert matemático, Ph.D. em Geofísica que foi Professor docente na Universidade de Columbia, também trabalhou para a Shell no Texas e foi quem criou em 1956, um dos primeiros modelos de teoria do pico de petróleo (Peak Oil)[i]. Ele desenvolveu diversos cálculos que foram usados para aprimorar modelos de produção de petróleo. Prof. Hubbert conseguiu prever com precisão que os poços dos Estados Unidos atingiriam um pico de produção entre 1965 e 1970[ii]. O modelo criado por Prof. Hubbert também foi usado para calcular projeções de capacidade mundial para a produção de petróleo, mostrando como poços chegavam a um pico de produtividade. Seu modelo logístico, agora chamada teoria de Hubbert (Hubbert Theory), suas variantes têm sido usado com relativa exatidão para prever tanto o auge quanto e declínio da produção de poços de petróleo, campos, regiões e até países. Segundo o modelo de Hubbert, a taxa de produção de um recurso limitado seguirá uma curva de distribuição relativamente simétrica e logística.

 

Ciente destes empecilhos, a indústria Petroleira tem estudado soluções para melhorar a taxa de equilíbrio entre a oferta e a demanda. Mas a própria indústria já reconhece que novas reservas de petróleo estão cada vez mais escassas e com acesso difícil, a exemplo dos poços pré-sal na fotografia 2.1.D. De acordo com Lord Ron Oxburgh, antigo Chairman da Shell “já está bastante claro que não existem muitas possibilidade de se encontrar uma quantidade significativa de petróleo barato novo. Todas as novas fontes de Petróleo convencionais ou não vão ser caras”[iii].

 

Um exemplo desta conscientização foi o lançamento, no dia 11 de Fevereiro de 2010, em Londres Reino Unidode um novo relatório da força tarefa sobre os estudos de Peak Oil e segurança energética[iv]. O relatório de 2009 World Energy Outlook da Agencia Internacional de Energia (IEA) também alerta os governos e a indústria para o futuros de uma nova crise do petróleo devido ao aumento de consumo na China e na Índia. Um segundo relatório do World Energy Council (WEC) de 2009, também inclui um cenário bastante complicado para as curvas de produção de petróleo. De acordo com as previsões da WEC, haverá “um possível ‘pico’ de produção do petróleo convencional nos próximos 10 à 20 anos e do gás natural convencional até 2050[v]”.

         2.1.A              Potencial Mundial de Produção de Petróleo, Gás Natural e Carvão

Tipo de Recurso Natural em gigatoneladas de carbono

Consumo (1860-1998)

Reservas

Recursos Naturais de Acesso Disponível

Ocorrências Adicionais

Petróleo 

 

 

 

 

     Convencional

97

120

121

0

     Não -convencional

6

102

305

914

Gás Natural

 

 

 

 

     Convencional

36

83

170

0

     Não -convencional

1

144

364

14,176

Carvão mineral

155

533

4,618

n/a

Fonte: Departamento de Energia dos Estados Unidos - Transportation Energy Data Book. Rogner, H.H., World Energy Assessment: Energy and the Challenge of Sustainability, Part II, Chapter 5[vi].

          2.1.B              Reservas, produção e consumo mundial de petróleo, 2007[vii]

 

Reservas de Petróleo Bruto em bilhões de barris

Percentual destas reservas

Produção de Petróleo (milhões de barris/ dia)

Percentual desta produção

Consumo de petróleo em milhões de barris/dia

Percentual deste consumo

United States

21.0

2%

6.8

8%

20.7

24%

OPEC

908.9

69%

35.3

41%

7.9

9%

Restante do mundo

386.8

29%

38.8

48%

57.0

67%

Fonte: Reservas – International Energy Annual (IEA) 2008, Produção –  International Petroleum Monthly, 2009, Consumo – Energy Information Administration (EIA), 2008.[viii]

No caso do Brasil mais de 92% das reservas brasileiras de petróleo são encontrados no mar, dos quais 82% estão consideradas off-shore. O avanço das tecnologias da Petrobras em prospecção, produção e exploração em águas ultra-profundas aumentou o numero de descobertas de gás natural e petróleo. No sector de gás natural, 78% das reservas também estão no mar. A figura 2.1.C ilustra as descobertas, dos poços Tupi e Júpiter localizados nas camadas do pré-sal, que têm entre 5.000 e 7.000 metros de profundidade. O primeiro poço de petróleo nas camadas pré-sal levou mais de um ano para ser perfurado e custou cerca de US$ 240 milhões de dólares[ix].

         2.1.C              Profundidade para perfuração de poço de petróleo pré-sal


Fonte: Petrobras[x]

Para obter mais informações sobre este assunto o leitor pode visitar os seguintes sites da Petrobras, acessando os Programas Tecnológicos PROFEX (Programa Tecnológico em Fronteiras Exploratórias) e PROCAP (Programa de Inovação Tecnológica de Sistemas em Águas Profundas). No Brasil os gráficos de distribuição da demanda energética também estão em desequilíbrio, porque o pico da demanda concentra-se na região sudeste [xi]. O que faz sentido tendo em vista que a maior parte do PIB do país encontra-se nas metrópoles desta região.

Mas em 2006 pela primeira vez em sua história, o país atingiu um excedente de petróleo e derivados da balança comercial, fato que foi anunciado como a auto-suficiência energética. No entanto, o caso concreto é que o Brasil produz um volume de óleo similar ao que ele precisa para seu consumo interno. Mas a sua produção (principalmente de óleo pesado) tem uma qualidade que não é inteiramente compatível com a infra-estrutura de refinarias existente no país, porque a maioria das refinarias existentes são feitas para aperfeiçoar o óleo leve. Assim sendo, o Brasil exporta parte do petróleo pesado que produz e nas refinarias locais completa o mix do petróleo leve importado com e seus demais derivados.

Como podemos observar de acordo com a tabela  2.1.E de demanda de petróleo dos Estados Unidos, o consumo total de combustíveis para o uso nos transportes quase dobrou entre 1975 e 2007. Tal aumento acaba sobrecarregando o sistema de distribuição e produção de combustíveis do país, expondo a economia a flutuações inesperadas no preço dos combustíveis e a uma possível desaceleração das indústrias nacionais devido a altos preços dos refinados de petróleo.

         2.1.D              Consumo de Petróleo no EUA por classe de veiculo (Milhares de Barris/dia)

Ano

Carros de Passeio

Caminhões Leves

Total Veículos Leves

Total industria de Transporte

Veículos leves como % da Industria de Transporte

1975

4,836

1,245

6,081

8,474

72%

1985

4,665

1,785

6,450

9,538

68%

1995

4,440

2,975

7,415

11,347

65%

2005

5,050

3,840

8,890

13,537

66%

2007

4,850

4,032

8,883

13,710

65%

Fonte: Cortesia do U.S. Department of Energy, Office of Energy Efficiency and Renewable Energy, Transportation Energy Data Book, Table 1.14[xii]



[1] CERA - Cambridge Energy Research Associates

[2] Peak Oil – ‘pico do petróleo’ refere-se a uma teoria usada para explicar o pico de produção mundial de petróleo. Mais detalhes no dicionário do final livro.


[i] Hubbert, Marion King. Theory of scale models as applied to the study of geologic structures. Geological Society of America GSA Bulletin; v. 48; no. 10; p. 1459-1519 October 1937

[ii]  Hubbert, Marion King. ‘Nuclear Energy and the Fossil Fuels Drilling and Production Practice’. Spring Meeting American Petroleum Institute. San Antonio, Texas: Shell Development Company (1956).http://www.hubbertpeak.com/hubbert/1956/1956.pdf

[iii]  The Next Crisis: Prepare for Peak Oil. The Wall Street Journal. February 11, 2010.

[iv]  UK Industry Task-Force on Peak Oil and Energy Security (ITPOES) http://peakoiltaskforce.net/download-the-report/2010-peak-oil-report/

[v]  World Energy and Climate Policy 2009. Executive Summary Assessment (http://www.worldenergy.org/publications/world_energy_and_climate_policy_2009_assessment/default.asp)

[vi] Departamento de Energia dos Estados Unidos - Transportation Energy Data Book http://cta.ornl.gov/data/chapter1.shtml

[vii] Reservas – Energy Information Administration (EIA) 2006, International Energy Annual (IEA) 2008, Table 8.1. Produção –  International Petroleum Monthly, 2009, Tables 1.1c, 1.1d and 1.3. Consumo – (EIA) 2006, (IEA) 2008 e International Petroleum Monthly, 2009, Table 4.7

[viii] Departamento de Energia dos Estados Unidos - Transportation Energy Data Book http://cta.ornl.gov/data/chapter1.shtml

[ix] Sennes, Ricardo Ubiraci, and Narciso, Thais, “Brazil as an International Energy Player”, in Lael Brainard and Leonardo Martinez-Diaz (eds.), Brazil as an Economic Superpower? Understanding Brazil’s Changing Role in the Global Economy (Washington, D.C.: Brookings Institution Press, forthcoming).

[x] Petrobras http://www2.petrobras.com.br/Petrobras/portugues/plataforma/pla_aguas_profundas.htm

[xi]  Goldemberg, José, Suani T. Coelho, and Fernando Rei. "Brazilian Energy Matrix and Sustainable Development." Energy for Sustainable Development 6.4 (2002).

[xii] Departamento de Transporte dos Estado Unidos DoT  http://cta.ornl.gov/data/chapter1.shtml